O arquiteto italiano Vittorio Gregotti afirmava recorrentemente que “criar o lugar” é o ato arquitetônico primordial, a sua origem, visto que, simplesmente assentar uma pedra em um terreno já significa o início das “modificações” que transformarão o local em arquitetura. Assolados por essa ânsia pelas transformações, vemos as ideias sendo materializadas em relações e conceitos que, muitas vezes, trazem à tona o genius loci em uma abordagem fenomenológica que cria uma íntima correlação entre arquitetura e contexto, ressignificando lugares e afirmando o vínculo do homem com o mundo.
Nesse sentido, guiados pelo desejo de nos ancorar no universo, sempre buscamos estabelecer uma relação entre o artificial e o natural, dentro da qual a topografia permanece como o conceito mais proeminente no contexto do ambiente físico. Entretanto, vale ressaltar que na história da arquitetura, a ideia da natureza sofreu mudanças significativas com o intuito contínuo de encontrar o equilíbrio ideal entre paisagem natural e construída, passando de um pano de fundo estável a um campo ativo e determinante na concepção arquitetônica.
Em um contexto geográfico como o do Brasil, de riqueza natural abundante, muitos projetos enfrentam o desafio de lidar com topografias monumentais que escancaram a pequenez arquitetônica diante da exuberância da natureza. Seguindo essa linha, os projetos apresentados nesse artigo foram selecionados por emergir da paisagem, por deslizar sobre ela, levando a uma confusão de limites entre figura e fundo, representando uma continuidade direta, uma transição suave entre o construído e o natural. Nessas topografias operativas da arquitetura contemporânea, a simbiose atinge outra dimensão, dificultando o discernimento entre onde acabaria o terreno e onde começaria a construção. Vista um “sistema operativo”, a topografia funciona nestes casos como uma ferramenta arquitetônica e o terreno não é mais lido como homogêneo, delimitado ou estável, mas sim, como um elemento determinante.
Neles a arquitetura reafirma o lugar ao qual pertence e o seu contexto topográfico torna-se um aliado, e não um antagonista. Sendo assim, a topografia é vista também como um elemento gerador de projeto, não apenas como uma linguagem, mas como um conceito.
Confira a seguir uma seleção de casas brasileiras nas quais a topografia é a estrutura que une arquitetura e paisagem.